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Foto do escritorPaulo Roberto de Albuquerque Melo Segundo

Cuidado para não MELar o filme

Sempre fui apaixonado por música e filme. Muito se deve à minha família, incluindo um tio que foi músico profissional e meu pai que foi dono de locadora de fitas VHS (acreditem, nem sempre tivemos celular e internet com tudo dentro).


Assistir a desenhos então era um momento mágico e meu avô sempre se preocupou em deixar “a galerinha” com essa distração. Costumava gravar várias fitas com 6h de desenhos (não existia canal exclusivo somente com programação infantil), com muita paciência e buscas na antena parabólica.


Como a vida imita a arte, ou vice e versa, tem um desenho que mexe comigo até hoje, Bee Movie, de 2007. Vou tentar resumir um pedaço dele:

Barry B. Benson era uma abelha recém formada que sonhava com um emprego na Honex, onde poderia produzir mel. Mas, um dia, ele resolveu dar um rolé fora da colméia e descobriu um mundo até então inteiramente desconhecido. É quando conhece Vanessa Bloome, uma alegre florista de Manhattan, com quem quebra as regras das abelhas, se tornando amigos e fazendo com que Barry conheça melhor os humanos. Aí Barry descobre que qualquer pessoa pode comprar mel nos supermercados, o que o deixa irado por considerar que estão roubando a produção das abelhas. É quando ele decide processar os humanos, na intenção de corrigir esta injustiça.


Não vou contar o fim do filme, mas esse processo que a abelha Barry começa contra nós traz um prejuízo danado pra humanidade, principalmente para o agro, pois as abelhas param de trabalhar por um tempo e daí você, que é agricultor ou curioso, já imagina o caos que isso vai provocar.


Não existindo polinização, não teremos muitas frutas, verduras, alimentos para animais e criações e diminuição a produção de carnes. Sem reprodução, as árvores morrem, as florestas acabam, os rios secam… Cara, isso aqui vira um pandemônio, um caos parecido com cenas de “O Exterminador do Futuro”, só que sem robôs.


Isso aí é filme, mas hoje não estamos longe de que aconteça algo parecido. Nossas colegas trabalhadoras andam sofrendo muito, não por trabalho “escravo”, mas por uso de produtos perigosos e de forma errada.


Já existem estudos sobre produtos usados nas lavouras, como Fipronil e os à base de nicotina, que estão provocando alterações no comportamento das abelhas ou até provocando a sua morte. Os fabricantes se defendem, afirmando que os problemas se dão por uso errado. Os agricultores contestam, alegando que utilizam conforme a bula. No meio dessa polêmica estão um dos seres mais mágicos e fantásticos do planeta, sendo prejudicados e afetando toda uma cadeia produtiva.


Sabemos, também, que muitos donos de apiários não se cadastram nas agências de fiscalização agropecuária, por medo de que o Estado faça algo de ruim ou cobre mais pela sua produção. A agricultura familiar, onde se inserem muitos dos que trabalham com abelhas, está sendo engolida pelos grandes agricultores em muitas regiões, e a falta de uma legislação mais específica e local dificulta também a conscientização da galera sobre o uso de agrotóxicos.


No entanto, o roteiro desse filme anda mudando. Pernambuco, através da Adagro (agência de defesa agropecuária de lá), já começa a estudar um limite mínimo de espaço entre o criador de mel e a lavoura, para diminuir o impacto do uso dos agrotóxicos nas colmeias, bem como a criação de portarias mais específicas, já que estão com espécies nativas entrando em processo de extinção.


O Iagro (agência estadual de defesa agropecuária animal e vegetal do Mato Grosso do Sul) já estuda trabalhar um processo de educação sanitária mais voltado aos apicultores, com normativas mais fortes e voltadas às nossas amigas listradas.


Como o Estado não tem como fazer tudo sozinho, nos resta, enquanto assistimos a isso tudo, sairmos do papel de plateia e assumirmos o de diretores, cada um no seu quadrado, denunciando as aplicações e uso incorreto de agrotóxicos, cadastrando nossas colmeias nos órgãos de fiscalização agropecuária do Estado, evitando o uso de Fipronil e de defensivos à base de nicotina em períodos de florada e nos horários de trabalho das abelhas e conversando com os vizinhos sobre esse problema.


Afinal, o enchimento de grãos e a formação de frutos dependem da polinização das abelhas, pois nem sempre as plantas fazem isso sozinhas ou podemos fazer manualmente, como no maracujá.


Não espere (a situação) virar filme e aparecer na sessão da tarde! A letra da música dos Titãs diz “as flores de plástico não morrem”, mas as naturais sim e sem elas e as abelhas o caos é inevitável.


* Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.


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