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Foto do escritorPaulo Roberto de Albuquerque Melo Segundo

Encher tia

Tem duas coisas que crianças fazem bem, muito bem: encher o saco da mãe e encher o saco da tia.


Pense que tem umas com talento nato e quando ficam quietas, com aquele silêncio de cemitério em dia de carnaval (menos em Catende, minha cidade do coração que tem um bloco de carnaval saindo a Meia-noite de dentro do cemitério), aí que danousse mesmo, corra atrás que vem bomba.


Possivelmente estão inventando ou aperfeiçoando uma tecnologia que gere alguma coisa que traga perigo, ou arquitetando a próxima aporrinhação pra cima de uma ou até das duas "parentas" (essa geração não sabe o que é procrastinar nesse tipo de serviço).





Além da habilidade nata de aporrinhar os adultos, toda criança já nasce com o instinto de montar Franksteins, isto é, de usar pedaços de bonecos diferentes para formar um novo, geralmente horrível, para pregar peças nas "tias" ou desenvolver seu lado Franjinha (personagem da turma da Mônica que é cientista).


No agro também temos uma tecnologia à la Frankstein. Essa tecnologia é a Enxertia. No caso não é dar uma de Chico Bento com suas artes de deixar a mãe de cabelo em pé, mas sim utilizar partes de uma planta com um padrão desejado (EX: resistência a pragas e doenças, tamanho baixo, produtividade maior, menor espaço entre plantas, etc), que será chamado de enxerto (cavaleiro ou garfo também), e colocá-la sobre a parte de outra planta que venha a colaborar na expressão desse padrão, servindo de suporte, chamada de cavalo ou porta-enxerto, com raízes mais fortes e também resistência a doenças e pragas.



Como exemplo temos os citros (laranja, tangerina, limão). Não se faz plantio comercial sem essa tecnologia.

Comercialmente, utilizamos a parte de baixo de um pé de limão, a que fica no solo (geralmente limão cravo) que tenha resistência a doenças como gomose e enxertamos a copa (parte aérea da planta, onde nascem as folhas) de uma espécie que tenha uma produtividade alta, criando um "Frankstein" vegetal, altamente produtivo e com resistência a doenças e pragas naturalmente.

Uma outra maneira é retirar uma gema (árvores não põe ovos, só servem de abrigo para ninhos), aquele olhinho onde brotam novas folhas, podendo ser apical (ponta de cima da planta) ou lateral, bem inchada (próxima de sair folhas) e colocar em um espaço aberto em outra planta que se deseja transformar em cavalo.

A enxertia pode ser feita em qualquer idade da planta (tem marmanjo que ainda faz isso com suas titias e mamães), tendo quer se observar qual técnica é melhor para cada tipo de planta.



Uma tecnologia simples até certo ponto, mas que precisa ser treinada e exige cuidados para que não ocorra contaminação ou desenvolvimento de problemas que impeçam o desenvolvimento vigoroso da planta e não precisa de raios pra dar vida, basta um viveiro bem conduzido, água, nutrientes e paciência (coitada das tias).


Obs.: A defesa agropecuária também atua nessa parte, fiscalizando viveiros e o trânsito de mudas conforme sua legislação estadual, a lei federal n° 10.711/2003 e o decreto federal n° 10.586/2020. Por isso, antes de começar seu pomar ou viveiro, procure a defesa agropecuária de sua região e adquira sempre mudas certificadas.


* Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.

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