Tudo na vida tem tempero, bom ou ruim, vai sempre ter. O sal é o tempero universal (esquece Edir Macedo),
que manda e desmanda na gastronomia... e na agricultura!
A adubação que alimenta a planta é à base de sal, sabia? Mas não o famoso cloreto de sódio (NaCl), vulgarmente conhecido como sal de cozinha. E sim o Nitrogênio, o Fósforo e o Potássio, que quimicamente são sais (eu não faltei essa aula de química), sem contar outros tantos, que devem ser sempre ofertados em equilíbrio.
E o senhor do momento é o “bombástico” Nitrato de Amônio, que não se trata de um demônio (rimou sem querer), mesmo após a tragédia no porto libanês.
Ele é um sal inorgânico (de origem em reações químicas de outros compostos), bem alvinho (sinônimo de “bem branco”, não que está com vinho) e cinza ou marrom quando impuro.
Nitrato de amônio é fonte de fórmulas de adubo, sendo a base do nitrogênio que a planta precisa, fazendo parte na sigla NPK (tipo um espinafre do Popeye), porém pouco usado no Brasil, tendo a ureia como principal fonte.
O NH4NO3 fornece 2 tipos de nitrogênio: a nítrica e a amoniacal. A segunda a planta sofre pra absorver, porque, como tem carga positiva, se liga a argila do solo (coloides), que tem carga negativa, assim formando um “relacionamento” de dar inveja a qualquer começo de namoro, ficando indisponíveis para uma, digamos, chavecada da raiz em acabar o relacionamento e “ficar” com o rico sal inorgânico.
Já com a forma nítrica não ocorre esse casamento de cinema. A partícula nitrogenada fica solteira o tempo todo, mas é festeira e pode “ir embora” com a chuva, em processos chamados de lixiviação (nada com lixa de avião), escorrendo superficialmente ou percolação, infiltrando-se para as profundezas da mãe Terra.
Devido a seu “temperamento explosivo”, sua chegada nos portos (quase tudo é importado da Rússia, China, Marrocos, Canadá e Israel) é fiscalizada pelo exército, assim como autorização, armazenamento, transporte em processos rígidos e seguros, com participação do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Após o processamento, onde vira adubo químico, é que o MAPA entra na fiscalização, mas, calma, o efeito do repolho nos gases quentes que saem do nosso escapamento não tem nada com o químico que estamos falando e não tem nenhum agricultor montando bomba e conspirando. A concentração nos adubos chega ao máximo de 20%, tornando seu armazenamento e uso seguros.
A tragédia foi um ato isolado, provavelmente por negligência e falta de fiscalização forte e coerente com seu perigo. Então, não deixe sua salada de lado e tempere com carinho.
Curiosidade: Quando está com sua libido alta, ou seja, excitado, libera óxido nitroso, o famoso gás do riso. Mas, dessa situação ninguém está a gargalhar. Que Deus proteja a terra de seu Chalita (de entre Tapas & Beijos)!
*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.
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