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Foto do escritorPaulo Roberto de Albuquerque Melo Segundo

Surdez no Bananal

Atualizado: 5 de out. de 2020

De onde eu venho, uma pessoa “môca” é aquela que, por problemas de saúde, idade, brincadeira ou frescura, não ouve, é o famoso surdo. Na cultura da banana existe uma doença sinônima, o Moko da bananeira, causada pela bactéria Ralstonia solanacearum Smith raça 2, se pronuncia assim, ralstônia solanaceárum, e se você acha português chato é porque não estudou Fitopatologia, ciência que estuda as doenças das plantas.


O Moko da bananeira é uma doença caracterizada como PQP (calma, não é nada disso), ou seja, praga quarentenária presente, pela Instrução Normativa nº 39, de 1º de outubro de 2018 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por acarretar um sério prejuízo econômico quando se instala na área cultivada e atualmente está sob controle nos Estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Sergipe. Por se assemelhar um pouco com outra praga já bastante disseminada, o Mal-do-Panamá, o alerta de sua chegada pode atrasar pela confusão do produtor ou a falta de informação no campo. Daí a grande importância da figura do Engenheiro Agrônomo Fiscal Estadual Agropecuário no campo, vistoriando visualmente os bananais comerciais, de quintais, urbanos e rurais, em busca dos sintomas para a rápida detecção dessa “surdez” tão prejudicial ao nosso Estado, ainda livre da praga.



No campo, o Moko da bananeira, não tem cura, muito menos aparelho auditivo para ela, se manifesta externamente causando um amarelecimento e secamento das folhas mais  velhas, seguida da quebra do pecíolo (a parte que segura a folha), causando um aspecto de  guarda-chuva fechado, igualmente ao Mal-do-Panamá. Internamente, fazendo um corte no tronco (o nome correto é pseudocaule, ok?!) se observam manchas marrom-avermelhadas a pretas, no sentido de fora para dentro, com o centro ainda branco. Aí já começamos a distinguir uma doença da outra, pois no Mal-do-Panamá essas manchas aparecem no sentido contrário e se concentram no centro. Para matar a pau quem é quem, vamos ao engaço, àquela parte onde as palmas de bananas ficam penduradas. Ao se fazer o corte do mesmo se constata as mesmas manchas, assim como na polpa das bananas, que não chegam a amadurecer muitas vezes e ficam parecendo pedras, nem banguelo come.


O Moko é facilmente transmitido pelas ferramentas usadas no cultivo, devendo o agricultor sempre tomar os seguintes cuidados: usar água sanitária para desinfecção após operações de desbaste, corte do pseudocaule e colheita; eliminar o coração do cacho, evitando a contaminação por insetos e sempre comprar mudas certificadas, pois são os principais meios de disseminação da praga. Um custo que se paga pela garantia, qualidade e certeza de planta sadia.



Escute bem, uma vez que você finge ser surdo e o Moko se instala no seu bananal a destruição da touceira doente tem que ser imediata e a cova só poderá ser utilizada para plantio com um intervalo de um ano, após se executar literalmente a frase “uma pá de cal” no local para se tentar cultivar novamente, uma vez que há estudos que relatam uma sobrevivência por vários anos da bactéria no solo.


Espero que com isso, você agricultor, tome os devidos cuidados com seu bananal e deixe de se fingir de “môco” quando se falar em investimentos com mudas certificadas e que essa “surdez” seletiva não o impeça de colher bons frutos.


*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.

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