Que cuspa o algodão babado quem nunca foi ao dentista e ficou pavor daquele barulho de broca. Quem também não teve aquela tia que arrancava seu dente fingindo querer ver se ele estava mole… tá de sacanagem.
Quem é do setor sucroalcooleiro e não fica anestesiado com o ataque de broca?!
A broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis – daí o título do texto. Horrível, mas…) é uma lagarta que ataca o colmo da cana e de outras gramíneas cultivadas (a cana, o milho e o arroz, são gramas, valiosas, diferentes e mais desejáveis do que as que você acumula na pança) e causa uma dor de cabeça grande se não forem identificadas logo, assim como uma cárie no dente.
Ela “ataca” a cana furando e comendo seu “miolo”, deixando-a oca (igual à cárie), diminuindo seu peso e o teor de açúcar a se extrair.
A maneira mais comum de atacar é no modo longitudinal, isto é, no sentido de crescimento da cana. O ataque também pode ser transversal, comendo de um lado ao outro, formando um “túnel”, o que facilita o tombamento da açucareira. Todavia, é menos comum de acontecer.
Como ela é sacana e não tem braços, deixa a “porta” aberta ao entrar, o que permite que intrusos não desejáveis visitem seu canavial e se instalem como cunhados folgados.
Esses “cunhados”, ou intrusos, são fungos e bactérias (entre eles o da podridão vermelha) que “roubam” o açúcar da sua plantação.
Como? “Comendo” a planta, soltando toxinas que causam inversão da sacarose (o seu precioso ouro branco).
A broca causa outros efeitos colaterais, assim como tomar remédio para dor dente sem visitar o dentista, como enraizamento aéreo e brotações laterais.
Ao detonar o miolo da cana, fisiologicamente se quebra a dominância apical e a planta entende que precisa se multiplicar, ou seja, causando aquela dor de dente de tirar o juízo, até da planta.
Mas tem como evitar essa “cárie canavieira” e controlar, só não dá pra obturar cana por cana.
Não precisa escovar o canavial 3x ao dia, mas sim fazer um monitoramento, começando o controle já com 3% de infestação.
Siga a fórmula:
F= 100 x n° internódios atacados n° total de internódios *100 = número de colmos por talhão
Compre mudas certificadas e faça um manejo varietal (utilização de várias variedades);
Não precisar ser um “homem de preto”, mas sempre use o MIP (Manejo Integrado de Pragas), de forma a evitar resistência a produtos químicos (encare como as aplicações de flúor que evitam cárie);
Seu terror pelo dentista não pode ser igual ao de usar agentes biológicos como Cotesia flavipes e Trichogramma galloi.
Tenha uma visita regular de seu engº agrônomo na sua propriedade e não deixe de seguir suas recomendações para um plantio saudável e produtivo;
*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.
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