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Foto do escritorPaulo Roberto de Albuquerque Melo Segundo

Um abajur cor de "carmim"

Atualizado: 1 de out. de 2020

Você já deve ter ouvido a frase: “Parece, mas não é”, alguma vez na sua vida!?


Em 1983, um cantor chamado Ritchie, lançou a música “menina veneno”. Ritchie parece brasileiro, mas não é, e a letra da música faz muita gente cantar o refrão igual ao título desse texto, parece, mas não é.


E o que isso tem a ver com o que vou falar hoje? Nada! A não ser com algum trocadilho ou piada infame mais a frente e com o carmim do título.

A região Nordeste do Brasil era uma grande produtora de palma forrageira nativa, uma espécie de cacto importado há muitos anos do México e que matava a sede dos animais, por ter mais de 80% de sua estrutura composta por água, e a fome, fornecendo nutrientes. Era o ouro verde do sertão.


Na década de 90, uma praga se instalou inicialmente em Sertânia-PE, e de lá rapidamente se espalhou por todo o Nordeste, e praticamente dizimou o palmal nativo da região. Era a Cochonilha do Carmim (Dactylopius spp.), que entrou no Brasil como uma alternativa de renda extra ao povo sertanejo, mas por algum descuido, quase quebra a bacia leiteira do agreste da região de Luiz Gonzaga como um todo.


A ideia era trazer uma espécie de cochonilha, a Dactylopius coccus cockerell, para se reproduzir conjuntamente com a palma e se extrair do inseto o ácido carmínico (daí seu nome), um corante natural que não tinge o abajur vermelho das casas de cover de Hitler (mata milhares sentindo prazer), mas amplamente utilizado na indústria alimentícia, de bebidas, cosméticos, entre outros. Não se sabe bem como o tiro saiu pela culatra e outra espécie terminou se instalando e saindo do controle, essa cochonilha produz muito pouco carmim e não vive em harmonia com a cactácea, pois ao se alimentar injeta uma toxina, matando a palma.


Essa praga era tão importante, que até julho do ano passado era considerada praga quarentenária presente no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

É um inseto minúsculo, que apesar de praticamente não se “bulir”, sua distribuição é fácil através de animais, pessoas ou pela própria palma contaminada.


A fêmea vive como rainha, paradinha, coberta com uma cerosidade branca, para proteger sua cútis nórdica (pele branca, fina, delicada) do sol. Já o macho, que também é branco mas não tem essa camada de “Sundown”, tem um par de asas e só nasce para acasalar, morrendo logo em seguida, acho que evoluiu assim porque não aguentaria essa vida de casado com uma “sugadora”.


Mas tenha calma produtor. Há males que vem para o bem. Com o rápido aumento da praga, pesquisadores do IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco) desenvolveram variedades de palma resistentes a essa praga, mais produtivas e nutritivas: IPA-Sertânia ou mão de moça, Orelha de elefante* e a Miúda ou Doce, todas sem espinhos. Infelizmente boa parte dos produtores rurais insistem em não querer trocar sua roça de espécie nativa pelas melhoradas, que não são transgênicas, diga-se de passagem, e muitas vezes são distribuídas gratuitamente pelos governos nordestinos aos produtores como forma de incentivo a melhorar sua área plantada e salvar seu rebanho no período da seca a um custo muito baixo.

Caso essa praga se instale ou já esteja instalada, nada de se aperrear. Ela é prima do Cascão, da turma da Mônica, apesar de não ter problema com água como seu primo, odeia um bom banho. Basta comprar 1 litro de detergente de lavar prato neutro, aquele amarelo, mas nada de pirangagem, nada de genérico, compre do bom, e misturar com 20 litros de água em uma bomba costal, igual aquela de aplicar veneno e pulverizar as “raquetes” (as partes da palma que parecem também uma folha) que estejam contaminadas. O detergente retirará a cera da cochonilha e o sol irá queimar, torrar, sua linda e delicada “pele”.


Se tá com dúvida se ela está na sua área de palma, corre lá e estoure, se tiver, é o que parece um pedaço de algodão. Tenha medo não, se sair um líquido vermelho, não foi seu dedo que cortou, é o ácido carmínico da praga que saiu. Entre com o tratamento, aplicando sempre pela manhã cedo somente as raquetes com sintomas. Basta duas aplicações com intervalo de oito dias pra se ter um resultado, sempre a uma distância de 20 cm para que a própria força do jato ajude a derrubar a praga. Depois é só reaplicar sempre que aparecer.


Troque toda a sua palma, assim que possível, por uma das variedades resistentes, isso trará uma redução do custo de manutenção e um aumento considerável de rendimento na produtividade.

Sim, ia esquecendo, por se tratar de um corante natural, as raquetes de palma contaminadas não precisam ser queimadas, pode-se dar a seus animais tranquilamente, o máximo que vai ocorrer é se tornarem garotas propagandas de alguma marca de batom pela boca vermelha que vai ficar.


Gostaria de uma palestra? Quer mais Informações? Entre em contato conosco. Será um prazer disseminar nosso conhecimento e trabalho para sua escola, comunidade, empresa.


(*)Apresenta pontos com minúsculos espinhos que não comprometem o consumo nem os animais.


PS.: Vacas, cabras ou jumentas não darão leite sabor morango se alimentado com isso, ok?!


*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.


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