Você já deve ter ouvido a frase: “Parece, mas não é”, alguma vez na sua vida!?
Em 1983, um cantor chamado Ritchie, lançou a música “menina veneno”. Ritchie parece brasileiro, mas não é, e a letra da música faz muita gente cantar o refrão igual ao título desse texto, parece, mas não é.
E o que isso tem a ver com o que vou falar hoje? Nada! A não ser com algum trocadilho ou piada infame mais a frente e com o carmim do título.
A região Nordeste do Brasil era uma grande produtora de palma forrageira nativa, uma espécie de cacto importado há muitos anos do México e que matava a sede dos animais, por ter mais de 80% de sua estrutura composta por água, e a fome, fornecendo nutrientes. Era o ouro verde do sertão.
Na década de 90, uma praga se instalou inicialmente em Sertânia-PE, e de lá rapidamente se espalhou por todo o Nordeste, e praticamente dizimou o palmal nativo da região. Era a Cochonilha do Carmim (Dactylopius spp.), que entrou no Brasil como uma alternativa de renda extra ao povo sertanejo, mas por algum descuido, quase quebra a bacia leiteira do agreste da região de Luiz Gonzaga como um todo.
A ideia era trazer uma espécie de cochonilha, a Dactylopius coccus cockerell, para se reproduzir conjuntamente com a palma e se extrair do inseto o ácido carmínico (daí seu nome), um corante natural que não tinge o abajur vermelho das casas de cover de Hitler (mata milhares sentindo prazer), mas amplamente utilizado na indústria alimentícia, de bebidas, cosméticos, entre outros. Não se sabe bem como o tiro saiu pela culatra e outra espécie terminou se instalando e saindo do controle, essa cochonilha produz muito pouco carmim e não vive em harmonia com a cactácea, pois ao se alimentar injeta uma toxina, matando a palma.
Essa praga era tão importante, que até julho do ano passado era considerada praga quarentenária presente no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
É um inseto minúsculo, que apesar de praticamente não se “bulir”, sua distribuição é fácil através de animais, pessoas ou pela própria palma contaminada.
A fêmea vive como rainha, paradinha, coberta com uma cerosidade branca, para proteger sua cútis nórdica (pele branca, fina, delicada) do sol. Já o macho, que também é branco mas não tem essa camada de “Sundown”, tem um par de asas e só nasce para acasalar, morrendo logo em seguida, acho que evoluiu assim porque não aguentaria essa vida de casado com uma “sugadora”.
Mas tenha calma produtor. Há males que vem para o bem. Com o rápido aumento da praga, pesquisadores do IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco) desenvolveram variedades de palma resistentes a essa praga, mais produtivas e nutritivas: IPA-Sertânia ou mão de moça, Orelha de elefante* e a Miúda ou Doce, todas sem espinhos. Infelizmente boa parte dos produtores rurais insistem em não querer trocar sua roça de espécie nativa pelas melhoradas, que não são transgênicas, diga-se de passagem, e muitas vezes são distribuídas gratuitamente pelos governos nordestinos aos produtores como forma de incentivo a melhorar sua área plantada e salvar seu rebanho no período da seca a um custo muito baixo.
Caso essa praga se instale ou já esteja instalada, nada de se aperrear. Ela é prima do Cascão, da turma da Mônica, apesar de não ter problema com água como seu primo, odeia um bom banho. Basta comprar 1 litro de detergente de lavar prato neutro, aquele amarelo, mas nada de pirangagem, nada de genérico, compre do bom, e misturar com 20 litros de água em uma bomba costal, igual aquela de aplicar veneno e pulverizar as “raquetes” (as partes da palma que parecem também uma folha) que estejam contaminadas. O detergente retirará a cera da cochonilha e o sol irá queimar, torrar, sua linda e delicada “pele”.
Se tá com dúvida se ela está na sua área de palma, corre lá e estoure, se tiver, é o que parece um pedaço de algodão. Tenha medo não, se sair um líquido vermelho, não foi seu dedo que cortou, é o ácido carmínico da praga que saiu. Entre com o tratamento, aplicando sempre pela manhã cedo somente as raquetes com sintomas. Basta duas aplicações com intervalo de oito dias pra se ter um resultado, sempre a uma distância de 20 cm para que a própria força do jato ajude a derrubar a praga. Depois é só reaplicar sempre que aparecer.
Troque toda a sua palma, assim que possível, por uma das variedades resistentes, isso trará uma redução do custo de manutenção e um aumento considerável de rendimento na produtividade.
Sim, ia esquecendo, por se tratar de um corante natural, as raquetes de palma contaminadas não precisam ser queimadas, pode-se dar a seus animais tranquilamente, o máximo que vai ocorrer é se tornarem garotas propagandas de alguma marca de batom pela boca vermelha que vai ficar.
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(*)Apresenta pontos com minúsculos espinhos que não comprometem o consumo nem os animais.
PS.: Vacas, cabras ou jumentas não darão leite sabor morango se alimentado com isso, ok?!
*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.